quarta-feira, 30 de maio de 2012

O NORTE FLUMINENSE - 06/2007


CORRIOLA DE GARRANDÁ  
                                                    Neumar Monteiro
 
Ah... Que perfume exalava as tardes da infância! Tempo de correr coxia e de inalar o aroma lavado que a chuva de verão espalhava pelo ar. Formigueiro cheira a pó de broca e flor da noite a jasmim, criança chega da escola e “garrandá”, conforme diziam os nossos avós. Tudo era reconhecido pelo olfato, paladar e visão. Festa Junina cheirava no ar, mesmo antes do mês de junho, como se a lembrança do ano anterior permanecesse inalterável.  Depois, perdidos os anseios juvenis, já não importam os gostos, cores e perfumes com que nos presenteia a vida.
Tantas recordações dos passeios, de finais de semana, que se empreendiam pelas cercanias de Bom Jesus. Grupos de jovens em bicicletas, sem lenço e sem documento, desvendando traiçoeiras trilhas que levavam às inúmeras cachoeiras que despencavam seus cabelos de água em trechos do rio Itabapoana repletos de pedras. Naquele paraíso perdido, jovens bonjesuenses, em corriola, saboreavam as laranjas, ingás-doces, abricós, araçás, jenipapos, pitangas, tamarindos, amoras e cajus recém - colhidos das árvores em derredor. Às vezes, eles tiravam da mochila um litro de Martini para acompanhar o banquete. Quase sempre, os rapazes iam com suas namoradas. A exceção, era grupo de meninas ou de meninos com seus amigos. Havia um companheirismo forte e uma grande amizade, copiando o consagrado estilo dos três mosqueteiros: “Um por todos e todos por um”.
Naquela época discutiam-se, em conjunto, temas políticos incentivados pelos festivais de música, quando “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores”, “Construção”, “Apesar de Você”, “Viola Enluarada” e “Deus Lhe Pague” faziam a cabeça dos jovens, tratados, então, como subversivos. Grandes nomes da música popular brasileira os inspiravam: Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso e tantos outros. Depois amordaçaram a juventude, fecharam as federações de estudantes, proibiram as canções e lacraram as esperanças. E o Brasil chegou aonde chegou: jovens matando, roubando e cheirando coca, trocando a vida pelo vício.  
Não mais a juventude perdida e o perfume dos resedás - amarelos; das mangas colhidas dos galhos e das trilhas de terra batida; nem os casebres humildes que ladeavam a estrada, com seus crochês coloridos, fogão a lenha, enfeites de conta de lágrima, cuias de cabaça e gente hospitaleira. Infelizmente o passado não volta e carregou com ele a simplicidade de dias felizes em meio à natureza saboreando, tranquilamente, uma carambola bem madurinha.       



segunda-feira, 28 de maio de 2012

LIVRO "DEVANEIOS"


PORTA MORTA
                                    Neumar Monteiro 

Porta, morta, madeira não tem vida.
Punhos batem na nudez da matéria:
Inerte, espera algo a despertá-la.
O vento não ousa demovê-la
Do seu silêncio de porta,
E permanece muda – madeira endurecida!
Se alguém lhe fala, fecha os ouvidos
De árvore antiga, que já foi vida,
E hoje é porta, - morta aos apelos do mundo!...
Igual a nossa a sua vida:
Se não há incentivo ou ousadia,
Se não há chave para abrir ideias e
Recriar o mundo de sonhos e fantasias,
Somos porta morta, - madeira entristecida!

quarta-feira, 16 de maio de 2012

LIVRO "POEMA DO AMOR ETERNO"


O  FILHO  DO  HOMEM
                                     Neumar  Monteiro
(Que as fontes não sequem no nascedouro
e que os homens nunca deixem de cantar) 

Ele cantou ao vento
e o vento espalhou
por todo o Universo
a Sua melodia.
Todos O ouviram
e cantaram com Ele.
Os cegos viram-lhe
o semblante meigo e divino,
e O seguiram.
Os surdos escutaram
Suas palavras,
aplaudindo-O, felizes.
Os mudos entoaram
cânticos de louvor aos Céus.
As feras, todas elas,
tornaram-se mansas
à Sua passagem.
E Ele falou.
Sua voz era cálida
como um beijo,
perfumada como o sândalo,
suave como o incenso.
Pedra, flora, homens e feras,
quedaram-se vencidos e jubilosos
a Seus pés.
As esperanças nasciam nos corações
e transbordavam em cada olhar.
Era um tempo de união!
De norte a sul do mundo inteiro
glorificavam o Deus da vida,
o vencedor da morte.
Hosanas de amor ecoaram
por toda parte, saudando
o Filho do Homen!
Depois... os que antes
O aplaudiram
pregaram-No na cruz
infamante do Gólgota.
E, desde então, o mundo
ficou roto de ideal,
vazio de alegria.
Sublime e incompreendido
foi o sacrifício do Cordeiro Divino!
Deu amor e vida
em prol da humanidade,
e recebeu, em troca,
a coroa de espinhos!

sábado, 12 de maio de 2012

O NORTE FLUMINENSE - 05-2012


                                      MÃE  SEMPRE  MÃE
                                                                                                                 Neumar Monteiro

            Não adianta furtar-se daquela que lhe deu a vida, mesmo que não a encontre, mesmo que foi de partida, será sempre a mãe que buscamos na hora do desespero, dos apelos de amor, das noites mal dormidas, sempre a lembrança implora a figura da mãe querida. Por nascermos dela herdamos sonhos e guarida e, inadvertidamente, dizemos coisas já por ela proferidas. Parece que fica com a gente o perfume da sua pele, o anseio de suas preces e a alegria de ser mãe nos afazeres dos dias. Mãe encaminha os passos, mesmos rotos, desbotados, que vacilam pela vida! Sempre ali a dar apoio: o caminhar da criança, tecendo a sua trança ou cortando o seu cabelo; seu desvelo de mãe não tem sossego – fruto da sua entranha, fruto do seu enlevo.
            Em suas carícias traz o vento da alegria: cheiro de alfazema, perfume de rosas vermelhas, alecrim, bem-me-quer e ternura que se misturam num abraço de mulher. Velando nas noites geladas que arrepiam a sua pele, embala o pequenino no balanço do seu corpo. Dali não sai de perto enquanto não vem o sol, desvelo do sonho menino ninado com o amor maternal.
            Tantas misérias na vida: mulheres catando cacos, trazendo o rosto enrugado ou chorando em portas fechadas; vertendo lágrimas de sangue nas mãos espalmadas e pedintes... E o sol de cada dia verte sobre as Marias a fome, a sede e a canseira. São Marias brasileiras iguais às ricas donzelas que se cobrem de ouro e que afivelam prazeres na barra de suas saias... Enquanto a vida ensaia o alvorecer das favelas, onde outras Marias morrem doentes de fome. Ingratidão da vida ou desespero sem nome?
            Aquela que é mãe, pobre, doente, alquebrada, sente sumir a ilusão que há tanto tempo esperava. Já não ensaia os seus sonhos, já não se encanta com nada, já não conversa fiada e nem aguenta a frustração. É sombra que se evapora é barco que some no mar; é tina que não tem roupa nem louça para lavar; porém, bate a roupa da comadre nas pedras do rio claro. Queria era cair na água deitada no leito macio encontrando as ninfas das cachoeiras do rio, que cantam para Oxalá, que é o Deus das alturas ou para Oxum, que é a deusa  dos rios, conforme crendice “Ioruba”(povo sudanês).
            Tudo fica nesta vida; até mesmo as tradições que aprendemos em crianças no alvorecer das ilusões. A mãe cuida da casa com interesse e amor, despojada da riqueza enxagua a roupa que lava, passa a trouxa e faz biscoitos para agradar a criançada; vai ao circo, quando aparece, bate palmas com alegria lembrando-se do tempo criança quando, tristeza, não tinha. Agora já é passado, que passa, sem graça, esquecido: o circo não tem mais risos, nem sequer mais atrativos... A mulher virou tristonha, não aquela que havia quando ensaiava palmas e gritava de alegria. O tempo é quase nada; o nada não tem sentido, o tempo passa correndo, fugaz do tempo esquecido; a vida já indo embora, a mulher ferve a água para afogar o arroz, o marido chega em casa com a cara emburrada, feia de fazer medo!... Como se fosse o senhor do tempo, do riso e do espaço. A mulher chora tristezas que escorrem lentamente, banhando a vida diária de outros tantos desafetos. Sempre foi a culpada de tudo que acontece, até que deixa saudades quando a sua vida esmorece.       

sexta-feira, 11 de maio de 2012

CÂMARA MUNICIPAL DE BOM JESUS 10-05-2012


Palavras proferidas por mim na homenagem ao Dia das Mães, na Câmara Municipal de Bom Jesus do Itabapoana em 10-05-2012

Exmo. Presidente da Egrégia Câmara Municipal, Sr. Samuel Junior, Ilmos Srs. Vereadores componentes desta Casa de Leis, funcionários, Mães que aqui se fizeram presentes; Exma. Sra. Prefeita desta cidade Branca Motta e a todos os convidados que aqui se encontram.
                 
                     Primeiramente, agradeço ao Presidente da Câmara o prestígio de participar desta festividade que comemora “O DIA das MÃES”. Sendo mãe, sinto-me lisonjeada ao comparecer nesta Casa e dizer poemas para um público tão seleto. Uma data tão bela tem que ser prestigiada por todas as Câmaras do nosso Estado e além-fronteiras do mesmo. A nossa Câmara, com esta solenidade, traduz a responsabilidade de prestigiar a quem nos deu a vida, que zelou pelos nossos passos e espaços que caminhamos até este futuro aqui representado. Se olharmos para trás havemos de relembrar as dificuldades que passamos neste caminhar de crianças para adultos; de dores para alegrias, sempre rodeadas pela mão forte de uma mulher. É, justamente, o que se comemora nesta ilustre Câmara de nossa cidade: as reminiscências daquelas mulheres sofridas, calejadas pelo trabalho de casa ou das noites mal dormidas a embalar o pequenino ser dormitando em seus braços. Quantos sacrifícios passaram para alimentar esta criança... Quantos desesperos para comprar um litro de leite quando o pai, desempregado, mendigava aos parentes um tostão para aliviar a fome de um filho. Tempos passados relembrados agora.
                   As Mães costuravam fraldas nas máquinas Singer, e o Dia das Mães era comemorado em todas as escolas. Um festejo para os pequeninos seres saídos de suas entranhas. Como era emocionante cantar na escola a canção “Mamãe, mamãe, mamãe, tu és a razão da alegria, tu és feita de amor e esperança”... E quantas esperanças tínhamos quando acalentadas em seus braços... Hoje o tempo aprisionou a mãe na sala de comércio, no banco do Estado, na sala de aula, nas altas sociedades e demais empregos ou desesperos. A mãe já não recebe o carinho de outros tempos e escondem a fragilidade nos vestidos da moda, nas maquiagens extravagantes e na correria do dia a dia. Que pena que passou o tempo sem ver a prole crescendo, sem ouvir a benção mamãe e o beijo de boa noite de uma criança. Culpa da vida, culpa do futuro que chegava.

                                   SER MULHER 
                                                              Neumar Monteiro

Ser mulher é ser mãe,
por Deus a escolhida,
para o nascer da vida.
Ser mulher é expandir
a meiguice e o amor
aonde quer que for.
Ser mulher é ser dinâmica,
atuante e complacente...
É, sobretudo, ser gente.

Ser mulher é ser perdão,
abraçando a todos
como a um irmão.
Ser mulher é ser grande
nas pequenas tarefas.
É ser o ombro amigo
nas horas incertas:

Na injustiça é voz que redime,
Na política é brado que exprime,
Na caridade é mão estendida.
Na  luta  é  coragem  latente,
No trabalho é virtude frequente,
Na guerra é mensagem de vida!
                  
  
MARIA  MÃE  DE  TODOS
                                                                     Neumar Monteiro
Maria, Mãe de todos os povos
Esperança de todos os homens!

Em que língua poderemos
proclamá-la Santa?
Somente o idioma do amor
é capaz de enumerar toda a sua grandeza:
Maria, Relicário de bênçãos;
Tesouro de bondade; Plenitude de carinho;
Exemplo de harmonia...

Todos os povos haverão de chamá-la Rainha
e se quedarão, vencidos, ante sua graça,
assim como fizeram os anjos do céu,
as flores dos campos, os oceanos e os ventos
que sopram de todos os hemisférios.

Maria de todas as raças, que se misturam
numa só cor: a da Paz, pois onde está Maria
cessam os ódios raciais, as perseguições aos pequeninos,
calam-se os preconceitos e emudecem as discriminações.

Um só abraço e única Fraternidade!
Que iguala e recebe a todos num mesmo coração:
o de Maria – Santa e Mãe, que resume em si Vida e Redenção,
e a história de erros e de acertos da nossa humanidade.